Ultimamente, tem-me
ocorrido, com demasiada frequência, um pensamento que teima em ficar.
Será que estou a ficar
velho? Será que já sou velho? Ou será que me sinto velho?
Há uns anos atrás, não
vou dizer quantos, lembro-me de pensar que, uma pessoa com mais de cinquenta
anos já era velha. Esta minha crença, baseava-se simplesmente nos queixumes que
os ouvia dizer. – dói-me aqui, - dói-me ali, - já não consigo… - já não me
lembro…
Hoje, que já os atingi
e ultrapassei, tenho os mesmos queixumes e questiono-me se tinha ou tenho
razão. Não quero acreditar e recuso-me a aceitar que tinha ou tenho razão. A
verdade é que, sendo ou não velho, quer queira ou não acreditar e aceitar, os
sinais do tempo já cá moram. Não me irritam as rugas na testa, aos cantos dos
olhos, nas pálpebras, sobretudo inferiores, porque acho que já nasceram comigo,
sempre me lembro delas, nem sequer a careca que também já tem uns anos,
demasiados, mas enfim, também já faz parte da mobília. O que me está mesmo a
começar a irritar e a convencer que, afinal tinha e tenho razão são as rugas e
a pele mole no pescoço. Ainda não me habituei a esta imagem reflectida no
espelho. O que me vale, é que acredito que ainda vou ter muitos, muitos mais
anos, já não tantos quantos os que já vivi, mas ainda assim, bastantes, para me
habituar e aceitar estes e novos sinais do tempo.
Acredito que, ser velho,
há-de de certeza ser tão bom, quanto o ter sido novo, assim saiba aceitar e
viver a vida de velho. De uma coisa tenho a certeza, estes anos que vivi, sendo
bons, ou menos bons, já ninguém mos tira e é claro que, é bom ser velho, como
foi bom ter sido novo.