sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Os sinais do tempo


Ultimamente, tem-me ocorrido, com demasiada frequência, um pensamento que teima em ficar.
Será que estou a ficar velho? Será que já sou velho? Ou será que me sinto velho?
Há uns anos atrás, não vou dizer quantos, lembro-me de pensar que, uma pessoa com mais de cinquenta anos já era velha. Esta minha crença, baseava-se simplesmente nos queixumes que os ouvia dizer. – dói-me aqui, - dói-me ali, - já não consigo… - já não me lembro…
Hoje, que já os atingi e ultrapassei, tenho os mesmos queixumes e questiono-me se tinha ou tenho razão. Não quero acreditar e recuso-me a aceitar que tinha ou tenho razão. A verdade é que, sendo ou não velho, quer queira ou não acreditar e aceitar, os sinais do tempo já cá moram. Não me irritam as rugas na testa, aos cantos dos olhos, nas pálpebras, sobretudo inferiores, porque acho que já nasceram comigo, sempre me lembro delas, nem sequer a careca que também já tem uns anos, demasiados, mas enfim, também já faz parte da mobília. O que me está mesmo a começar a irritar e a convencer que, afinal tinha e tenho razão são as rugas e a pele mole no pescoço. Ainda não me habituei a esta imagem reflectida no espelho. O que me vale, é que acredito que ainda vou ter muitos, muitos mais anos, já não tantos quantos os que já vivi, mas ainda assim, bastantes, para me habituar e aceitar estes e novos sinais do tempo.
Acredito que, ser velho, há-de de certeza ser tão bom, quanto o ter sido novo, assim saiba aceitar e viver a vida de velho. De uma coisa tenho a certeza, estes anos que vivi, sendo bons, ou menos bons, já ninguém mos tira e é claro que, é bom ser velho, como foi bom ter sido novo.