sexta-feira, 3 de junho de 2022

Cai o "Santo" e a "Trindade" está aflita

 

Encerrado/Abandonado

Na quarta-feira passada, dia um de junho, por coincidência, só por coincidência certamente, sendo dia mundial da criança, foi noticiado pelos órgãos de comunicação social cá do burgo, Portalegre, o encerramento do Internato masculino de Santo António, mais conhecido como “asilo” dos rapazes.

A publicação da “notícia” nas redes sociais da Rádio Portalegre, gerou uma onda de protestos, especialmente dirigidos à Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Portalegre, Dra Maria Luísa Tavares Moreira, instituição que geria o internato desde 2014, por acordo celebrado com o Instituto da Segurança Social de Portalegre. A senhora provedora da Santa Casa da Misericórdia de Portalegre, já antes tinha anunciado a denúncia do contrato estabelecido com o Instituto da Segurança Social. Não foi surpresa para mim, este encerramento, como não será o da Casa de Recolhimento Nossa Senhora da Conceição, “internato das raparigas” a um de setembro, também já anunciado. Os protestos cingem-se agora, só, pelo enceramento do “asilo” dos rapazes. Os “protestantes” nem repararam, ou será que repararam que outra instituição idêntica está prestes a fechar portas e aguardam que Setembro chegue para protestar?

Não conheço, nem tenho de conhecer, o conteúdo do acordo celebrado entre a Santa Casa da Misericórdia de Portalegre e o Instituto da Segurança Social. O que nos é dito na notícia da Rádio Portalegre é que a Sra provedora encerrou o internato dos rapazes e está prestes a encerrar o internato das raparigas, - “por entender que este modelo de casas está esgotado”.

Todos temos o direito de “entender” o que quisermos. Fazendo um esforço de raciocínio, até consigo “entender”, o “entendimento”, da Sra provedora e seus correligionários da mesa administrativa, sim, porque esta decisão, não foi certamente, única e exclusivamente da Sra provedora.

Se, este modelo de casas está esgotado, porque não apresentaram um outro modelo ou outra solução? Será que não há nenhum outro modelo ou solução para inviabilizar os encerramentos?

Todos sabemos que, “estes modelos de casas”, albergam jovens que por um ou outro motivo, foram afastados do seu meio e seio familiar que, na maioria dos casos, infelizmente, não serão os mais adequados à socialização e educação.

A questão é se estas casas, e em concreto estes dois internatos, têm os técnicos e os recursos financeiros para “endireitar” alguns comportamentos desviantes destes jovens. Talvez estes sejam os motivos principais que tenham levado à “desistência” por parte da Santa Casa da Misericórdia de Portalegre.

Ao invés de se “acusar” a Santa Casa da Misericórdia de abandono dos jovens, alguém se perguntou se ela não o fez, ao denunciar o acordo, exactamente na defesa desses mesmos jovens?

O estado ao retirar os jovens às famílias não devia superar aquilo que estas não conseguem dar?  

A minha perplexidade está no que “entende” a Sra Diretora do Instituto da Segurança Social de Portalegre? Será que também ela entende que este modelo de casas está esgotado? Pelos vistos sim, já que não se opôs ao seu encerramento, nem se oporá ao encerramento do próximo, sendo da sua competência e responsabilidade. O Instituto da Segurança Social é um organismo do Estado e é deste a responsabilidade de cuidar dos menos afortunados.

E a câmara municipal de Portalegre, e a sua presidente Fermelinda Carvalho qual é o seu entendimento sobre este assunto?

Creio ter ouvido ou lido algures numa entrevista que concedeu, ou numa reunião do executivo que quando a Sra provedora anunciou a denúncia do contrato e consequente encerramento dos internatos, esta, Sra provedora, não lhe ter comunicado previamente esta decisão, nem tinha de o ter feito, no entender da Sra presidente de Câmara. Talvez não o tivesse de fazer em termos estatutários, já que, a Santa Casa da Misericórdia de Portalegre não depende da Câmara Municipal, mas porque se tratava de resolver "problemas" de instituições relevantes e de "peso" do concelho, não seria relevante e aconselhável uma conversação antecipada?  O certo é que ela e o seu executivo, souberam tempestivamente o que viria a acontecer. O que fez para evitá-lo? NADA!

Sra presidente de Câmara o tempo de bonança está a terminar.

E a diocese de Portalegre e Castelo Branco, O Sr Bispo D. Antonino Dias não tem nada a dizer ou esclarecer?

Claro que é muito mais fácil assobiar para o lado ou fazer-se de morto e deixar que os outros arquem com o ónus da culpa. Haja coragem!

Não creio que esta seja a razão verdadeira para o encerramento dos lares. São da competência e responsabilidade do estado estas instituições. “Gerir” pessoas, e este tipo de instituições implica “oferecer” às instituições com as quais faz acordos/protocolos contrapartidas financeiras, porque não se fazem “omeletes sem ovos”.

Apesar de não concordar com a solução encontrada, consigo compreendê-la e de certo modo “aceitá-la”. É preciso coragem, para dizer com clareza que, com as condições que nos são dadas, não temos maneira de prosseguir com este compromisso.

O estado, através do Instituto da Segurança Social, financiou em 2014 a remodelação das instalações do internato de Santo António em mais de seiscentos e sessenta e cinco mil euros. O que vai ser dessas instalações agora? Será mais um “abandonado em Portalegre”? Daqui a dois ou três anos verei expostas fotos da Célia Generoso de “Abandonados 2025”. Por sinal, fotos de que gosto muito. Pena mesmo serem abandonados. Mas… se se abandonam jovens… os espaços por eles utilizados, ficarão desertos… ”naturalmente”, e com eles se desertifica uma cidade, uma região.  

Infelizmente o estado, este estado eleito, insiste em fazer “omeletes sem ovos”, isso mesmo se vê agora com a “descentralização” de competências em relação à gestão das escolas e da saúde.

O que parece é que os órgãos locais, câmaras municipais, também elas acreditam, que conseguem fazer omeletes sem ovos, com uma excepção, e aproveito para elogiar a decisão da câmara municipal do Porto e a sua assembleia municipal por não aceitar pactuar com este entendimento.

Se a disponibilidade financeira das câmaras “fugirem” para o que são ou deviam ser responsabilidades gerais do estado, algumas coisas que são responsabilidade e competências das câmaras ficarão por fazer.