quarta-feira, 21 de setembro de 2022

O São Mateus - Elvas

  

Hoje, o meu pensamento, ou memória, fugiu-me para Elvas, mais precisamente para o São Mateus. Não vou falar do porquê desta romaria. Todo o Elvense que se preze, sabe da sua história, os que não sabem, pesquisem. O tio Google sabe tudo.  

Sempre vivi a “escassos” metros do S. Mateus. Bom! O sempre é relativo, há já muitos anos que assim não é.

O “sempre”, foi desde que nasci até aos 23 anos, depois, houve umas idas e vindas, uma permanência de mais uma meia dúzia de anos e o “quase” afastamento.

O São Mateus de Elvas era considerado, não sei se ainda é, a maior romaria do Alentejo, vinham pessoas de todos os cantos do Alentejo, especialmente do Alto Alentejo.

Nunca fui muito de romarias, muita gente junta, embora num espaço enorme, causa.me alguma claustrofobia.

Mas, sempre adorei a procissão dos pendões, em honra do Sr Jesus da Piedade, era, penso que ainda é enorme, as alas da procissão eram de quilómetros, não estou a exagerar, os que nela participam e conhecem, sabem que é verdade.

É uma procissão sentida e vivida por todos os elvenses. Fiz parte dela durante anos a fio. Gostava do ritual, vela acesa, protegida por uma cápsula de papel, na mão. Do para, arranca, do cheiro a incenso, do barulho das matracas, das rezas, do ajoelhar das pessoas que assistiam à sua passagem, dos foguetes, das cabeças no ar a ver se alguma cana caía em cima, às vezes caíam muito perto, das bandas filármonicas e sobretudo do Hino do Sr Jesus da Piedade, que ainda hoje me arrepia cada vez que o oiço. Muitos, fazem nesta procissão o “pagamento” das suas promessas, percorrendo-a descalços. Hoje já nem tanto.

No meu tempo…de criança e jovem adolescente, era a altura de se estrear roupa nova. Lembro-me de uns dias antes, irmos às lojas, escolher e comprar a roupa a estrear no “O Bravinho”, “ A Casa Rente”, “A Gioconda”, esta memória.. já não sei se era assim o nome, “ A Gazela”, “ A Paloram” e outras que já não lembro com exactidão os nomes, mas que eram grandes casas de moda em Elvas, ainda hoje guardo memória de muita dessa roupa. Não havia São Mateus, em que rico, remediado ou pobre não estreasse roupa nova.

Nem no Natal se estrava roupa nova. Não havia presentes nessa época, pelos menos, os menos afortunados como era o meu caso, pelo que todos ansiávamos a chegada do São Mateus, era o nosso “menino Jesus” antecipado. Roupa nova que depois da estreia no São Mateus era guardada e novamente “estreada” no primeiro dia de escola, que normalmente decorria depois do dia sete de outubro. Tempos felizes, sim, tempos felizes, apesar da escassez material.

Há já uns anos que não vou ao São Mateus, ontem ainda pensei em ir ver a procissão, quiçá ajoelhar-me à passagem do andor, mas, talvez por não ter roupa nova para estrear, desisti de ir.   

Um Bom São Mateus para todos.