Sempre vivi a “escassos”
metros do S. Mateus. Bom! O sempre é relativo, há já muitos anos que assim não
é.
O “sempre”, foi desde
que nasci até aos 23 anos, depois, houve umas idas e vindas, uma permanência de
mais uma meia dúzia de anos e o “quase” afastamento.
O São Mateus de Elvas era
considerado, não sei se ainda é, a maior romaria do Alentejo, vinham pessoas de
todos os cantos do Alentejo, especialmente do Alto Alentejo.
Nunca fui muito de
romarias, muita gente junta, embora num espaço enorme, causa.me alguma
claustrofobia.
Mas, sempre adorei a
procissão dos pendões, em honra do Sr Jesus da Piedade, era, penso que ainda é
enorme, as alas da procissão eram de quilómetros, não estou a exagerar, os que nela
participam e conhecem, sabem que é verdade.
É uma procissão sentida
e vivida por todos os elvenses. Fiz parte dela durante anos a fio. Gostava do
ritual, vela acesa, protegida por uma cápsula de papel, na mão. Do para,
arranca, do cheiro a incenso, do barulho das matracas, das rezas, do ajoelhar
das pessoas que assistiam à sua passagem, dos foguetes, das cabeças no ar a ver
se alguma cana caía em cima, às vezes caíam muito perto, das bandas filármonicas
e sobretudo do Hino do Sr Jesus da Piedade, que ainda hoje me arrepia cada vez
que o oiço. Muitos, fazem nesta procissão o “pagamento” das suas promessas,
percorrendo-a descalços. Hoje já nem tanto.
No meu tempo…de criança
e jovem adolescente, era a altura de se estrear roupa nova. Lembro-me de uns
dias antes, irmos às lojas, escolher e comprar a roupa a estrear no “O Bravinho”,
“ A Casa Rente”, “A Gioconda”, esta memória.. já não sei se era assim o nome, “
A Gazela”, “ A Paloram” e outras que já não lembro com exactidão os nomes, mas
que eram grandes casas de moda em Elvas, ainda hoje guardo memória de muita
dessa roupa. Não havia São Mateus, em que rico, remediado ou pobre não
estreasse roupa nova.
Nem no Natal se estrava
roupa nova. Não havia presentes nessa época, pelos menos, os menos afortunados
como era o meu caso, pelo que todos ansiávamos a chegada do São Mateus, era o
nosso “menino Jesus” antecipado. Roupa nova que depois da estreia no São Mateus
era guardada e novamente “estreada” no primeiro dia de escola, que normalmente
decorria depois do dia sete de outubro. Tempos felizes, sim, tempos felizes,
apesar da escassez material.
Há já uns anos que não
vou ao São Mateus, ontem ainda pensei em ir ver a procissão, quiçá ajoelhar-me
à passagem do andor, mas, talvez por não ter roupa nova para estrear, desisti
de ir.
Um Bom São Mateus para
todos.