Há dias que cansam por
não se fazer nada, ainda que haja muito por fazer.
Há imenso tempo, talvez à volta de cinquenta anos, que brinco,
falando a sério, convencido, que, - antes dos cem ninguém me leva, nem morto,
nem “Lá o de Cima”, acrescentando sempre, olhando para o alto, não se vá Ele
esquecer - já tenho contrato assinado!
Diverte-me olhar a expressão das pessoas quando pronuncio
tais palavras.
Uns, sorriem pálidos, duvidando da minha sanidade mental, perante
o meu atrevimento, de desafiar o omnipresente. Não os censuro, também eu,
muitas vezes, duvido de mim próprio. Outros, tentam acompanhar a brincadeira, a
medo, perguntando, como estabeleci o contrato, ou afirmando que também querem
fazer o mesmo. Digo-lhes sempre que é um contrato exclusivo.
Acredito mesmo, que sou capaz de cumprir este contrato e até
talvez, prorrogá-lo por mais uns tempos.
Numa época em que cada vez há mais centenários, porque havia eu
de ficar a meio, ou “às portas”?
Este meu convencimento, advém da minha linhagem,
especialmente paterna. Ainda criança, lembro-me de uma tia do meu pai, velha,
velha, encurvada, a cabeça quase batia no chão, só pele e osso, mas sempre a
andar, o meu pai se fosse vivo, teria hoje cento e dez anos, morreu com noventa
e cinco.
Estou convencido que morreu quando quis morrer e porque quis
morrer. Achou que já chegava. Ainda hoje, tenho um tio, irmão do meu pai, com
noventa e cinco anos, ainda com saúde, felizmente.
Ou seja, o meu contrato tem fundamentos. Quando o estabeleci,
queria bater o “record” de todos eles.
Hoje, neste momento, já não sei se quero.
Viver cansa!
Hoje, pela primeira vez, começo a sentir medo do meu querer,
mas não do meu crer.
Começo a sentir medo que, o omnipresente me obrigue a cumprir
o contrato, não permitindo aditamentos, nem incumprimentos.
Apetece-me “fazer férias da vida”, quero acrescentar este
aditamento e voltar quando estiver saturado das férias.
Já obtive a resposta, e Ele, o Omnipresente, diz-me que não
admite tal clausulado.
Diz-me que, se meto “férias da vida” é para sempre!
Diz-me que, não há férias da vida, porque esta continua
noutra dimensão…
Viver cansa! Cansa! Cansa demais!
Assim não vamos descansar nunca!
Que cansaço!
FOOOSCA_SE!