Gosto de citar provérbios porque encerram o conhecimento e ensinamento de imensas gerações.
A citação deste
provérbio, hoje, vem a propósito de, alegadamente, a senvergonhice ou como eu gosto de dizer a desenvergonhice, que nem sei se o termo é correcto, mas que
todos(as) entendemos de algumas “porções de existência humana” como refere uma respeitadíssima amiga nas suas publicações.
Faria no dia quinze de dezembro de 2020
precisamente nove anos de voluntariado, ininterruptos, numa Instituição de
Solidariedade Social. Destes nove anos, cinco foram prestados como
representante desta instituição, o que quer dizer com responsabilidades
acrescidas.
Nunca antes tinha feito
voluntariado. Sempre achei, e ainda estou convicto que o trabalho dá saúde. Com
esta convicção, logo após a saída da minha vida profissional, ainda jovem!?,
não me quis dar descanso. Tinha exemplos de companheiros, que deixada a vida
activa profissional, e sem nada fazer, passados poucos tempos, estavam velhos, sombras
deles próprios, quando ainda eram jovens e tinham muito para poder fazer e serem
úteis.
Não permiti
assemelhar-me a eles e ainda não me permito ser sombra de mim próprio, um dia,
porque o tempo tudo nos traz, serei essa sombra que acredito ainda está longe.
Com as minhas
convicções, certas ou erradas e com o intuito de ser útil, por essa altura, ano
2011, desabafei com uma pessoa que muito estimava e considerava amiga e
disse-lhe:
- Preciso de arranjar
uma ocupação que me envolva física e mentalmente.
Respondeu-me ele,
- porque não vai fazer voluntariado para…
Referindo o nome da
instituição.
Confesso que nem sabia
da existência dessa instituição em Portalegre, embora já existisse à cerca de
cinco anos. À minha pergunta: – Onde fica?
Respondeu dizendo o local.
Passados dois ou três
dias desta conversa, e ao passar pela porta da instituição dirigi-me à mesma.
Recebeu-me um Sr simpático, pequenino e de barbas que também lá fazia voluntariado.
Gostei dele logo no primeiro impacto, vá-se lá saber porquê, senti a tal “química”.
Todos nós sentimos essa “química” de reciprocidade ou de rejeição, mesmo sem
conhecermos minimamente a pessoa como era o caso. Disse-lhe ao que ia, a
oferecer tempo e trabalho e se precisavam. Depois de me ouvir e ter feito uma
breve apresentação da instituição, perguntou-me:
- qual é a sua
disponibilidade?
-toda, de manhã e de
tarde.
- o que gostava de
fazer?
- O que houver para
fazer.
- amanhã de manhã pelas
dez horas pode cá estar?
- sim, estarei cá a
essa hora.
E assim foi, no dia
quinze de dezembro de 2011 às dez horas, apresentei-me no meu novo local de
trabalho. A partir deste dia, passaram a ser todos os dias até vinte e três de Setembro
de 2020. Infelizmente, convivi com este Sr. pouquíssimo tempo, apenas um mês,
por infortúnio faleceu passados, sensivelmente dois meses depois de nos termos
conhecido.
Porque o Sr adoeceu
logo no início de 2012 e era o que assegurava todo o serviço, quer o de
escritório quer o de armazém e por ausência dos membros dos órgãos socais, e de
outros voluntários, com excepção do presidente da direcção, tive de ser eu a dar
continuidade e assegurar todo o serviço. Não me queixo e nunca me queixarei de
todo este trabalho. De facto queria preencher o meu tempo e o trabalho de
voluntariado quando vivido como eu o vivi não nos deixa tempo nem nos dá
descanso. Comparo muitas vezes o tempo e o trabalho de voluntariado com o tempo
e trabalho profissional e no meu caso não há comparação possível. No trabalho
profissional depois do “toque de ordem” que o mesmo significa encerrar portas,
só no outro dia voltava a pensar no mesmo. No trabalho de voluntário não há “toque
de ordem”.
Tenho consciência que
sempre desenvolvi o trabalho de voluntário e nos últimos cinco anos no de dirigente,
tendo por base a defesa dos interesses da instituição. Tinha a convicção que o
trabalho de voluntariado, até porque a lei assim o define era um trabalho não
remunerado.
Renunciei ao cargo de
dirigente da instituição, por não compactuar
com a DESENVERGONHICE.
A minha convicção é
deitada por terra quando, alegadamente, a DESENVERGONHICE de quem dirige
instituições, se permite compactuar com a falta de carácter e idoneidade de “uma
porção de existência humana “ tornando-se elas mesmo uma porção de …
Com que moral ficam
estas porções de … ao pagar, alegadamente, a uns e não a outros, um serviço, ou
parte dele, prestado sob o regime de voluntariado?.
Com que moral ficam
estas porções de … ao mentirem, alegadamente, a outras instituições, dizendo
que determinados procedimentos foram feitos, bem sabendo que tais procedimentos
ainda não foram concluídos?.
Entristece-me reconhecer
que pessoas que eu considerava, estimava e respeitava, alegadamente, se
transformem em “porções de…”
Entristece-me
reconhecer que a instituição pela qual dei muito do meu tempo, trabalho e saber,
alegadamente, tenha ou venha a ter à sua frente “PORÇÕES DE EXISTÊNCIA HUMANA”.
Como diz o provérbio:
QUEM NÃO TEM
VERGONHA TODO O MUNDO É SEU