sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Quem não tem vergonha todo o mundo é seu


 Gosto de citar provérbios porque encerram o conhecimento e ensinamento de imensas gerações.

A citação deste provérbio, hoje, vem a propósito de, alegadamente, a senvergonhice ou como eu gosto de dizer a desenvergonhice, que nem sei se o termo é correcto, mas que todos(as) entendemos de algumas “porções de existência humana” como refere uma  respeitadíssima amiga  nas suas publicações.

 Faria no dia quinze de dezembro de 2020 precisamente nove anos de voluntariado, ininterruptos, numa Instituição de Solidariedade Social. Destes nove anos, cinco foram prestados como representante desta instituição, o que quer dizer com responsabilidades acrescidas.

Nunca antes tinha feito voluntariado. Sempre achei, e ainda estou convicto que o trabalho dá saúde. Com esta convicção, logo após a saída da minha vida profissional, ainda jovem!?, não me quis dar descanso. Tinha exemplos de companheiros, que deixada a vida activa profissional, e sem nada fazer, passados poucos tempos, estavam velhos, sombras deles próprios, quando ainda eram jovens e tinham muito para poder fazer e serem úteis.

Não permiti assemelhar-me a eles e ainda não me permito ser sombra de mim próprio, um dia, porque o tempo tudo nos traz, serei essa sombra que acredito ainda está longe.   

Com as minhas convicções, certas ou erradas e com o intuito de ser útil, por essa altura, ano 2011, desabafei com uma pessoa que muito estimava e considerava amiga e disse-lhe:

- Preciso de arranjar uma ocupação que me envolva física e mentalmente.

Respondeu-me ele,

 - porque não vai fazer voluntariado para…

Referindo o nome da instituição.

Confesso que nem sabia da existência dessa instituição em Portalegre, embora já existisse à cerca de cinco anos. À minha pergunta:  – Onde fica? Respondeu dizendo o local.

Passados dois ou três dias desta conversa, e ao passar pela porta da instituição dirigi-me à mesma. Recebeu-me um Sr simpático, pequenino e de barbas que também lá fazia voluntariado. Gostei dele logo no primeiro impacto, vá-se lá saber porquê, senti a tal “química”. Todos nós sentimos essa “química” de reciprocidade ou de rejeição, mesmo sem conhecermos minimamente a pessoa como era o caso. Disse-lhe ao que ia, a oferecer tempo e trabalho e se precisavam. Depois de me ouvir e ter feito uma breve apresentação da instituição, perguntou-me:

- qual é a sua disponibilidade?

-toda, de manhã e de tarde.

- o que gostava de fazer?

- O que houver para fazer.

- amanhã de manhã pelas dez horas pode cá estar?

- sim, estarei cá a essa hora.

E assim foi, no dia quinze de dezembro de 2011 às dez horas, apresentei-me no meu novo local de trabalho. A partir deste dia, passaram a ser todos os dias até vinte e três de Setembro de 2020. Infelizmente, convivi com este Sr. pouquíssimo tempo, apenas um mês, por infortúnio faleceu passados, sensivelmente dois meses depois de nos termos conhecido.  

Porque o Sr adoeceu logo no início de 2012 e era o que assegurava todo o serviço, quer o de escritório quer o de armazém e por ausência dos membros dos órgãos socais, e de outros voluntários, com excepção do presidente da direcção, tive de ser eu a dar continuidade e assegurar todo o serviço. Não me queixo e nunca me queixarei de todo este trabalho. De facto queria preencher o meu tempo e o trabalho de voluntariado quando vivido como eu o vivi não nos deixa tempo nem nos dá descanso. Comparo muitas vezes o tempo e o trabalho de voluntariado com o tempo e trabalho profissional e no meu caso não há comparação possível. No trabalho profissional depois do “toque de ordem” que o mesmo significa encerrar portas, só no outro dia voltava a pensar no mesmo. No trabalho de voluntário não há “toque de ordem”.

Tenho consciência que sempre desenvolvi o trabalho de voluntário e nos últimos cinco anos no de dirigente, tendo por base a defesa dos interesses da instituição. Tinha a convicção que o trabalho de voluntariado, até porque a lei assim o define era um trabalho não remunerado.

Renunciei ao cargo de dirigente da instituição, por não compactuar com a DESENVERGONHICE.

A minha convicção é deitada por terra quando, alegadamente, a DESENVERGONHICE de quem dirige instituições, se permite compactuar com a falta de carácter e idoneidade de “uma porção de existência humana “ tornando-se elas mesmo uma porção de …  

Com que moral ficam estas porções de … ao pagar, alegadamente, a uns e não a outros, um serviço, ou parte dele, prestado sob o regime de voluntariado?.

Com que moral ficam estas porções de … ao mentirem, alegadamente, a outras instituições, dizendo que determinados procedimentos foram feitos, bem sabendo que tais procedimentos ainda não foram concluídos?.    

Entristece-me reconhecer que pessoas que eu considerava, estimava e respeitava, alegadamente, se transformem em “porções de…”   

Entristece-me reconhecer que a instituição pela qual dei muito do meu tempo, trabalho e saber, alegadamente, tenha ou venha a ter à sua frente “PORÇÕES DE EXISTÊNCIA HUMANA”.  

Como diz o provérbio:

QUEM NÃO TEM VERGONHA TODO O MUNDO É SEU

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