terça-feira, 28 de março de 2023

O Foco Cega-nos

foto público.pt

"Em terra de cegos, quem tem um olho é rei" 

A saga do NRP Mondego da marinha portuguesa continua.

Quando da “insubordinação” dos treze militares, tive a oportunidade de nestas páginas, à semelhança de outros, nas suas, militares ou não, de dar a minha opinião sobre o acontecimento.  

Para uns, há/houve insubordinação e indisciplina por parte dos treze militares, para outros, um “acto heróico”. Situo-me mais nesta posição, embora possa admitir, eventualmente, alguma infracção disciplinar e criminal.

Mas, não me cabe a mim, como não cabe a nenhum dos “opinadores”, avaliar se há/houve estas infracções. Essa competência pertence aos tribunais e à estrutura de comando da marinha. Aos presumíveis infractores e aos seus advogados cabes-lhes proceder à sua defesa. O certo é que os recursos hierárquicos, dentro da estrutura, dos processos disciplinares, estão feridos antes de nascerem, o mesmo é dizer, nascem mortos, quando as entidades de recurso e neste caso, o Chefe do Estado Maior da Armada, já proferiu publicamente a sua decisão, mesmo antes de se ter dado inicio aos respectivos processos. Caberá apenas, o recurso ao tribunal administrativo, para que se profira JUSTIÇA.

No entanto, à semelhança do que outros já expressaram e concretamente os advogados dos “infractores” não posso deixar de realçar que a atitude/comportamento do Chefe do Estado Maior da Marinha não foi de todo isenta, de ter havido também, para além de eventuais crimes, eventuais infracções disciplinares. Todo o militar sabe que um superior hierárquico não pode punir um inferior na presença de subordinados seus. O que o Sr Almirante Gouveia e Melo fez, por mais que depois o negue, foi no mínimo uma repreensão agravada em público e na presença de subordinados dos infractores. Hoje, direi mesmo, enquanto proferia a “repreensão agravada” o Sr Almirante Gouveia e Melo tem/teve a consciência que, estaria a cometer ele próprio uma infracção, só que, a ânsia que o foco incida sobre ele “cega-o”.        

A comunicação social e a maioria dos “opinadores”, centraram o seu foco nas eventuais infracções dos treze militares, como se estas infracções fossem inéditas nas forças armadas e nas forças policiais, lamento desiludi-los, mas não são inéditas, Em muitos casos, como será o deste, felizmente que não são.

Preferi incidir o foco, e continuo a preferir, em salientar a coragem, destes trezes militares, sabendo os riscos e eventuais consequências que corriam, em expor situações que em nada dignificam as forças armadas e neste caso particular a marinha portuguesa.

Tiveram a coragem de denunciarem situações, que cabiam aos comandantes e mais concretamente ao comandante da embarcação, mas que este, por falta de coragem não o fez. Talvez porque, ao que dizem, é preciso coragem, eu diria, “tomates”, para enfrentarem e contradizer o “todo poderoso” almirante Gouveia e Melo.

À data de hoje (28/03/2023) sabemos que o NRP Mondego não completou “a missão” de substituição de pessoal nas ilhas desertas, tendo sido rebocado de regresso à Madeira, mesmo depois de algumas reparações de emergência, para dar “ares” de que estaria em condições de navegabilidade aquando da “insurreição”.

Na marinha, e em especial o Chefe do Estado Maior da Armada, pode tapar o sol com a peneira de que nunca mandariam o navio para uma “missão impossível”, fica claro que os trezes “revoltosos” tinham mais que razão.

Hoje estamos a falar da marinha, mas, podemos perguntar como está a "sucata" nos outros ramos da forças armada? 

Não, não vou falar nos "Leopard 2". 

São estas as forças armadas que o país quer? 

Já sei que "muitos", não querem militares, afinal para que servem? só para dispêndio,  que pelo que se vê, não tem sido assim tanto, dado o estado calamitoso em que se encontram as forças armadas. Os "muitos" não foram assim tantos, foram os que detinham o poder suficiente, para quase acabarem com eles. Só que, como diz o povo, em altura de trovoada, lembram-se de Santa Bárbara.

Perante esta incapacidade de cumprimento de missão, por inoperacionalidade do NRP Mondego o que nos tem a dizer o Comandante do navio e o Chefe do Estado Maior da Armada?

O Sr almirante Gouveia e Melo, neste momento, deve estar sem chão…AFUNDOU-SE nas suas próprias palavras.

Em situações “análogas” a comunicação social, os “opinadores” e o governo, por esta altura, já teriam “decepado” a cabeça do Sr Almirante Gouveia e Melo. Veja-se o caso da TAP, não hesitaram em fazer rolar as cabeças dos CEO(s).

Sempre que há situações que de forma directa e indirecta, envolvem o governo e o estado, não se ouve uma palavra do Sr primeiro ministro. Este, para além de cego, fica surdo e mudo. É o deixa andar que, logo, logo, todos esquecem…

Nestas circunstâncias, o Sr almirante Gouveia e melo, não deveria ou deverá já ter posto o lugar à disposição? O que o faz continuar?

Será que o foco numa hipotética candidatura à presidência da república lhe tira a visão?

O actual presidente da república já lançou a “candidatura” de quatro eventuais interessados, porque ainda não lançou a candidatura do Sr. Gouveia e Melo? Quando já é conhecido o interesse deste nesse cargo. Será que não confia nele, tanto quanto diz?

Aguardemos os próximos episódios.          

 

quinta-feira, 16 de março de 2023

E "Bota Abaixo"

Foto dnoticias.pt

Como militar que fui, sou, embora já afastado à cerca de treze anos, xiiiii! Como o tempo passa…não posso deixar de manifestar o meu “sentimento” sobre o “acontecimento” do NRP Mondego da Marinha Portuguesa.

A história, conhecemo-la, por ter sido amplamente divulgada na comunicação social do “Reino”, perdão da república. Resume-se essencialmente à “insubordinação por desobediência” de quatro SARGENTOS e nove PRAÇAS, as maiúsculas não são por lapso nem por acaso.

Sargentos e Praças que dão o corpo “às balas”. Já que os comandantes, não souberam ou quiseram dar o “murro na mesa”, fizeram-no eles. O meu respeito a estes homens.

Infelizmente vão ser “cravejados”, têm de servir de exemplo que, na marinha, não há insubordinados nem “usurpadores de funções”.  

Esta insubordinação por desobediência, deve-se, nos argumentos dos insubordinados, entre outros, aos factos de:

- O NRP Mondego apresentar limitações técnicas graves que comprometem a segurança do pessoal e do material e o compromisso da respectiva missão;

- Em formatura na ponte, o próprio comandante, assumiu perante a guarnição que não se sentia confortável em largar com as condições técnicas que o navio apresenta;

- As previsões meteorológicas apontavam para ondulação de 2,5mt a 3mt, com período de 7 segundos;  

- O navio possui dois (2) motores estando um (1) deles, o de Bombordo, INOP. Este motor necessita de uma manutenção W4 há cerca de 2000 horas de funcionamento;

- O motor de Estibordo com fugas diversas, em tudo idênticas às fugas identificadas no motor de Bombordo, com consumo de óleo. Este motor necessita de uma manutenção W4 há cerca de 2000 horas de funcionamento;

Duas mil horas correspondem a oitenta e três dias de funcionamento como eles dizem, mas certamente representam muitíssimos mais dias. Ou seja, neste lapso de tempo o que é que o comandante, as minúsculas não são lapso nem erro, fez para resolver este problema e salvaguardar as vidas dos tripulantes, inclusive a sua? 

O que é que o Sr Almirante Gouveia e Melo fez? Não tinha conhecimento destas anomalias? E nos outros equipamentos da marinha?

O que é que o governo fez? Não tem conhecimento do estado em que se encontram as Forças Armadas? Ou melhor dito, serão Forças Desarmadas?

Naturalmente isto é apenas uma gota de água num imenso oceano.

Quase aposto que, o Sr Almirante Gouveia e Melo estava “deserto” que algo acontecesse na “sua” marinha, para aparecer de novo na “ribalta nacional” e assim fazer que não se esqueçam d’ele. Afinal o homem tem de estar sempre na ribalta se quer ser presidente da república, não vão outros ultrapassá-lo, como ele, eventualmente, fez com outros do seu ramo, tendo inclusive, mandando o seu antecessor embora antes de ter terminado a missão para que fora nomeado. Fazer frente e exigências ao governo, nunca!

A ser verdade, e não me custa mesmo nada em acreditar que seja, que o comandante assumiu em formatura perante a guarnição que não se “sentia confortável” em largar, porque LARGOU ao infortúnio, de um processo disciplinar e criminal trezes militares seus?

Se é verdade que o comandante falou perante a guarnição, "não me sinto confortável", será que os restantes militares têm a coragem de confirmar em inquérito tais palavras. Não me parece...teriam de ser homens...

As razões estão bem de ver “falta de tomates” e carreirísmo, agora cada um que se desenrasque é o que a “tropa” manda fazer…

O que menos importa aqui não é o crime de insubordinação, embora seja por este e outros que eles vão pagar. O que importa é o dislate de terem metido a “boca no trombone”, ainda por cima, não sendo músicos…

Como pessoa, desde criança, ensinaram-.me e aprendi que, “Quem quer ser respeitado, tem de se dar ao respeito”. Como militar apenas vim a reforçar este aprendizado, tendo-o praticado sempre. Sempre respeitei e sempre fui respeitado. Bom, quase sempre, infelizmente na fase final da minha carreira, e no topo desta, senti que não fui respeitado.

Tinha como adquirido, sendo “garantia” que palavra de Comandante era “escritura” “assinada” e “autenticada”. Infelizmente nem todos os Comandantes, hoje para mim, comandantes assim o entendem.

Há comandantes pequenos.

Há comandantes políticos no ativo.

Passei por uma experiência, que ainda hoje, já passaram dezasseis anos, ainda me é “traumatizante” pela falta de caracter, honradez e assunção de palavra dada de um comandante.

Uma história entre muitas que poderia contar e que talvez um dia escreva nas minhas “memórias”.