sexta-feira, 2 de março de 2018

Aquela maça azul

Era uma pequena aldeia, com pouco mais de trezentos habitantes,situada num pequeno vale, duma terra distante. À sua volta tinha um enorme terreno comunitário. As hortas eram o sustento da aldeia. Para além do cultivo dos terrenos, criavam-se animais, porcos, galinhas, coelhos, algumas vacas, cabras e ovelhas, que depois eram mortos para a alimentação da população. Alí não havia supermercados nem “shoping(s)”. O comércio era feito entre trocas de produtos, todos se sentiam felizes e realizados. O dinheiro? nem sabiam o que isso era.
Na aldeia também existiam muitas árvores de frutos, das quais algumas eram macieiras. De dez em dez anos aparecia uma maçã azul, numa das macieiras, sem que ninguém soubesse explicar o fenómeno do aparecimento daquela maçã. Nos anos do aparecimento da maçã azul realizava-se um festival, a que chamavam “Festival da maçã azul”. Só no festival é que podia ser colhida, mas, ninguém a podia comer. O chefe tinha-lhes dito que, se alguém a colhesse antes do festival, algo de terrível aconteceria na aldeia.
Muitos acreditavam que aquela maçã daria poderes mágicos, a quem a comesse, mas, ninguém se atrevia a colhê-la antes do festival, e muito menos a comê-la.
Chegado o dia do festival, os habitantes colheram a maçã, e, como em todos os anos meteram-na em cima de uma pequena jangada e deixaram-na ir rio abaixo. Acreditavam que, com esta pequena cerimónia, todos os males da aldeia desapareciam. A maça representava todas as doenças, e todos os males que, deste modo eram transportados para fora da aldeia.
Passados mais dez anos, um habitante jovem, teria uns seis anos, e que desconhecia que nao podia colher a maçã, ao vê-la não resistiu e colheu-a, levou-a para casa e mostrou-a aos pais. Estes, ao verem a maçã azul, nas mãos do filho, ficaram muitos aflitos, e sem saber o que fazer decidiram ir falar com o chefe da aldeia. O Chefe disse-lhe que iria pensar no que se teria de fazer, para evitar que algo de terrível acontecesse na aldeia. No dia seguinte todas as maçãs, de todas as macieiras, estavam azuis. Claro que culparam a criança pelo que estava a acontecer. Todos os habitantes, e até os pais quiseram matá-la, e fazer dela um sacrifício. O Chefe não aceitou isso. Os pais, com medo que algo de mais terrível acontecesse a todos os habitantes da aldeia, decidiram pôr termo à vida do filho oferecendo-o em sacrificio. O chefe da aldeia, ao saber disso, decidiu, apesar de ser tarde demais, contar a verdade aos habitantes. Era ele que pintava as maçãs de azul, para que a aldeia tivesse uma festa, e se divertisse. Nunca pensou, que a profecia, de que algo de terrível aconteceria na aldeia, aconteceu mesmo.
Não podia continuar como chefe da aldeia. Quando acabou de explicar isso aos habitantes, construiu uma jangada, meteu-se em cima dela, e foi rio abaixo, como iam as maçãs de dez em dez anos. O que lhe aconteceu não sabemos, mas como as maças, quando íam rio abaixo, simbolizavam os males a saírem da aldeia, deste modo também ele simbolizava o mal maior a ir embora.

Miguel Santos - 8º A - Nº 23 - 19/11/2013 - Escola Secundária de S. Lourenço                         

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