SYRAH - "A MINHA MENINA" - "A NOSSA MENINA"
Esta é uma carta de
pedido de desculpa e despedida. Conquistaste-me no primeiro encontro, quando te
fui ver pela primeira vez, no já longínquo mês de agosto de 2006. Estavas junto
com outra irmã, mas foste tu que te aproximaste da rede e me cumprimentaste. Suplicaste
com esse teu olhar tímido que te trouxesse comigo. Pedi a opinião dos outros
membro da família, houve sim(s) e não, ganhou a maioria, que o mesmo é dizer, os
sim(s). O não nunca foi muito convicente. Trouxe-te comigo no dia 10 de agosto de 2006. Tinhas 8 meses de vida e
farias por isso neste dia, 10 de agosto, 12 anos a viver em família. Todos nos
apaixonámos por ti, mesmo quem não te queria receber. Passaste a ser a “nossa
menina”, era assim que te tratávamos. -“Dá isso à menina”, -“a menina está a
olhar para ti”, -“leva a menina à rua”…
Quando um de nós vinha
da rua e, se entrava em casa, o primeiro membro da família, a cumprimentar era a “menina”,
não davas outras hipóteses, eras também tu, a primeira a aproximar-se e, a
cumprimentar-me, a cumprimentar-nos. A “menina” era sempre a primeira e estava
sempre em primeiro lugar. Era a “menina” que me obrigava a levantar cedo, para
a levar à rua. Nunca soube se era eu que passeava a menina, se era a menina que me passeava a mim. Era a “menina” que, condicionava o nosso horário de saídas e
regresso a casa, tínhamos de levar a “menina” à rua, foram 12 anos. Hoje, dia 9
de julho de 2018 pelas 14h30, tive de tomar uma decisão dolorosa, de te deixar
partir para outra dimensão. Doeu muito, dói muito e vai doer por uns dias até
que me habitue à tua ausência e à falta do teu cumprimento. A tua “mãe”, já não
te vai dar de manhã, como sempre fazia, a bolacha de que tanto gostavas e,
quando ela não se levantava logo a ias chamar. A minha alma sangra e os meus
olhos choram, de dor e tristeza, por te saber ausente. Penso que tomei a
decisão certa, sabes que já pouco mais havia a fazer, infelizmente, o quisto de
que eras portadora, crescia todos os dias, a um ritmo astronomicamente
galopante, mesmo sob medicação. Podias estar mais uns dias connosco, não sei
quantos, mas o incómodo e provável dor, de desceres e subires as escadas e até
o andar na rua já eram um sacrifício para ti. Tinhas imensas dificuldades, em
te deitares e te levantares, era também doloroso para nós vermos-te nesse
estado. O quisto, infelizmente, não era operável, sabes disso, ouviste a tua
médica dizê-lo. Tinha que tomar uma decisão ou continuava a ver as tuas
condições de vida a degradarem-se e com sofrimento, ou te deixava partir. Já
tinha pensado nessa hipótese, e pensava que era mais fácil tomar a decisão, mas
não foi nada fácil. Hesitei, a minha cabeça explodia de sensações e
sentimentos. Há decisões dolorosas, muito dolorosas mesmo, mas crê tomei-a em
teu nome, e a pensar em ti, o que seria melhor para ti, e acredito ou quero
acreditar, que esta era a decisão a tomar. Foi uma decisão a três de te
deixarmos partir. E não foi fácil para nenhum de nós. Os teus outros dois
“irmãos”, só já vão saber que tu partiste. No momento em que escrevo esta carta,
já não estás connosco fisicamente, mas estás no nosso pensamento, no nosso coração,
e na nossa recordação. Vamos recordar-te sempre. Eras linda, inteligente, obediente
e cativante e foi um gosto enorme, termos vivido contigo estes 12 anos, todos
debaixo do mesmo teto, e inclusive algumas vezes no nosso quarto, especialmente
nos dias de trovoada, sempre foste muito medricas e eramos nós que te tínhamos
de fazer companhia a ti e não tu a nós. Detestavas não ter companhia e agora
nós detestamos sentir a tua ausência. Completarias 13 anos no dia 9 de
dezembro, uma respeitável idade para uma menina. Hoje às 19h30, como todos os
dias, já não vou contigo à rua, mas tu vais sair para o mundo. O nó na garganta
e as lagrimas nos olhos continuam, mas vai passar, tem de passar, porque tu
continuarás a fazer parte da minha vida.
Peço-te desculpa SYRA
se tomámos a decisão errada e ainda querias estar um pouco de mais tempo
connosco. Até sempre SYRAH.
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