sábado, 20 de julho de 2019

O ENXOVALHO



Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão

Este provérbio vem a propósito do que se está a passar no país e em especial na sequência da entrevista do CEMGFA, almirante Silva Ribeiro ao Público e à Rádio Renascença.

Queixou-se o almirante, da falta de seis mil efectivos nas forças armadas e dizia ele, “na minha opinião, coloca em perigo a segurança das instalações e meios militares e põe em risco missões, quer em Portugal quer no estrangeiro”. 
Pois bem, de imediato assaltaram-me ao pensamento algumas dúvidas:
 - Tem o almirante CEMGFA direito, nestas matérias, a ter uma opinião?
- Tem o almirante CEMGFA direito, a exprimir essa opinião, numa entrevista, sem que antes a tenha manifestado, por escrito, ao(s) seu(s) superior(es) hierárquico(s)?
- Mediu ele a consequência dos seus actos (entrevista)?
A estas dúvidas, o meu intelecto, que é limitado, e em nada comparável ao de tão ilustres protagonistas, tentou responder.
Na minha modesta opinião, e sim, é apenas uma opinião, o Sr almirante Silva Ribeiro CEMGFA, não tem direito a opinar, porque nestas e noutras matérias, relevantes para o país, os responsáveis não têm direito a opinar. Têm o DEVER de demonstrar por estudos feitos, que lhes é impossível desempenhar com eficácia e eficiência as suas missões. Tal não ficou demonstrado, limitando-se a dar uma opinião, como se fosse um Zé ninguém, como eu, sem quaisquer responsabilidades.
Pelos vistos, não transmitiu ao ministro da defesa essa sua opinião, ou se transmitiu, não a demonstrou com estudos que provem a sua razão (opinião), daí o ministro ter sido apanhado de surpresa e ter reagido da forma que reagiu, mas, à frente falarei sobre esta reacção. Enquanto as pessoas com responsabilidades no país, não tomarem consciência que não têm direito a ter uma opinião, mas sim, têm o dever de zelar pelo cumprimento do que lhes está incumbido, “não passaremos da cepa torta”
O CEMGFA, terá consciência, tem de ter, que ao dizer, e ao saber antecipadamente, porque pertence ao sistema, que a falta de efectivos põe em perigo a segurança das instalações militares e põe em risco as missões, tem de ter consequências. Uma delas é a exigência do aumento de efectivos, para aceitação do cargo, ou a redução das missões. O que fez ele e fizeram os outros? Aceitam os cargos, não fazem exigências, e se fazem, porque não obrigam o seu cumprimento no tempo determinado? e continuam a fingir que está tudo bem?
Vou contar, uma breve história, de entre muitas, dos meus tempos de militar, e de formador na GNR. Numa determinada ocasião a DI (Direcção de Instrução) entregou-me 500 testes, ou mais, já não sei precisar, para classificar e que os teria de entregar, classificados naturalmente, passadas quarenta e oito horas. Considerei, naturalmente que, o que me estavam a exigir, era um completo absurdo, porque ninguém conseguiria com honestidade e rigor cumprir tal missão. De imediato fiz uma conta muito simples, demonstrado que cada teste levaria no mínimo entre dez a quinze minutos a corrigir (classificar), não eram testes de cruz, eram escritos, em muitos deles tínhamos de estar a decifrar a caligrafia, mas adiante, expliquei X teste vezes y (10 minutos) dá Z minutos/horas/dias. Foi como se tivesse caído o Santo e a Trindade, e disseram-me – Ah! Mas você faz essas contas todas para corrigir meia dúzia de testes. Expliquei-lhe que me obrigaram a fazê-las, porque o que me estavam a pedir, exigir, era impossível concretizar, logo eu não aceitava aquele prazo. Perante a evidência, demonstrada, tiveram de aumentar o prazo de entrega.
Isto tudo, para dizer que a opinião não basta, eu não disse: - acho que não vou conseguir corrigir todos os testes nesse tempo. Demonstrei que não ia conseguir e recusei entrar no fingimento.
Se o Sr almirante e demais chefes militares, não conseguem cumprir o que lhe está incumbido, simplesmente não aceitem. Se ninguém aceitar, quem os incumbe de tais responsabilidades, terão de “rever a matéria”.
A reacção do ministro foi a de assinalar a porta de saída ao Sr almirante. Este e os demais que vão fazer? Saem ou ficam? E os que se seguirem aceitam nas mesmas condições? Não Sr(s), têm uma palavra a dizer é só, a de demonstrarem, ou não, que o que lhes é pedido, nestas condições, é impossível concretizar com honestidade e rigor.

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