Se podes olhar, vê. Se
podes ver, repara.
(José Saramago)
Se podes ouvir, ouve.
Se ouves, escuta.
(isidro Santos)
Esclarecimento
O texto que se segue não é uma tentativa de plagiar os
autores de “Ensaio sobre a cegueira” do prémio Nobel – José Saramago e tão
pouco outros autores que escreveram os “Ensaios sobre a Surdez” – José António
Arruda e o maestro António Vitorino de Almeida, longe de mim, pretender
equiparar-me, a tão nobres autores.
Após as “férias” prolongados devido à pandemia e ao medo
intrínseco, ainda latente, de se ficar infectado com o covid 19 e cumpridas
todas as medidas de desinfecção dos locais, distanciamento de no mínimo dois
metros, gel desinfectante à entrada do recinto e utilização de “açaimo humano”,
reuniram-se no dia três de Setembro, numa sala suficientemente grande, umas
treze ou catorze pessoas.
A reunião era para se esclarecer e ser-se esclarecido sobre
alguns temas que se consideravam importantes a serem apresentados.
Comparemos esta reunião com uma sala de aula. O professor deu
início à aula, entrando num tema não previsto no sumário, tornou-se chata, incómoda
e desinteressante para alguns dos alunos, fazendo com que estes não ouvissem, apesar de terem ouvidos, e perdessem a
atenção. Verdade que o professor conduziu erradamente esta primeira aula. No
decorrer da “lição” tendo tido a percepção de que estava a perder a aula e se
tinha desviado do sumário, fez uma tentativa de introdução do tema previsto,
mas logo se ouviu uma voz como que acabada de acordar,
- não, se é para falar
de assuntos pessoais eu saio.
Seguiu-se o burburinho típico dos alunos, cábulas, que logo aderem
a este tipo de iniciativa. Ela ouviu mas
não escutou, e fez com que todos os outros lhe seguissem o caminho. O
professor insistiu e voltou a introduzir o tema, dirigindo uma pergunta a uma das
“alunas”. Silêncio, esta “aluna” não deve ter ouvido nem escutado, talvez porque não lhe interessava a pergunta
ou não sabia responder. Os outros cochichavam para distrair o professor.
Dando-se conta que estava a perder a aula, o professor retomou o tema inicial.
Fez a sua exposição, e quando concluiu a lição apresentando a solução,
eis que, uma aluna, atira uma “bola” para o meio da sala, como sugestão de
solução do problema. Se durante a lição o professor expôs o problema, no final
apresentou a solução. Esta aluna estava a dormir certamente, porque se
estivesse acordada, teria ouvido e
escutado a solução. Porque nenhum dos alunos, à excepção de um ou dois,
ouviu a solução, agarraram-se à bola e todos diziam,
- a bola é minha,
- a bola é minha,
- a bola é minha…
o professor não concordando com a “bola” atirada, a custo,
ainda disse,
- não, essa proposta não é válida eu já apresentei a solução.
Porque o que os alunos queriam era divertirem-se embora
estivéssemos na primeira aula depois da pandemia, mandaram calar o professor,
dizendo,
- ou jogas o nosso jogo ou ficas sozinho.
O professor que não é daqueles que se intimida na primeira
“ameaça” ainda insistiu,
- esse não é o meu jogo, eu não vou jogar esse jogo.
Não adiantou nada, os alunos, sendo a quase totalidade alunas,
à excepção de um aluno, nem deixaram o professor terminar a aula, levantaram-se
e começaram a sair da sala, convencidas que a proposta era a solução para o
problema, nem se despedirem – até à próxima aula. Tendo a capacidade de olhar não viram que em vez de uma
proposta de solução fizeram uma proposta
de problema, e por não terem visto
não repararam nos danos colaterais que a proposta vai provocar.
Porque tendo a capacidade de ouvir, não ouviram nada do que foi a lição e como não ouviram não escutaram os apelos incessantes
do professor.
Esta é uma história real, não fictícia. Aos
verdadeiros professores, porque eu não o sou, desejo sinceramente um óptimo início
do ano lectivo com os desejos que não haja nenhuma “bola” em plena sala de
português, matemática, história ou a que seja. Aos alunos que não se esqueçam
que os jogos e as bolas são para se jogarem nos recreios ou nas aulas de
educação física.