A decepção é o desacreditar mais trágico que um
coração pode sentir
(desconhecido)
Desde o meu nascimento, fui envolvido na fé cristã, católica
apostólica e romana. Fui baptizado ainda não tinha três meses. Frequentei a
catequese até aos meus dozes/treze anos. Fiz a primeira comunhão aos sete. A
profissão de fé por volta dos nove/dez. O crisma aos doze. Fui “sacristão”,
ajudava nas missas. Casei na igreja católica, Sé de Elvas, ou melhor dito,
igreja de Nossa Senhora da Assunção.
Eduquei os meus filhos nesta mesma fé. Todos eles e são três,
receberam os sacramentos da religião católica. À minha semelhança, foram
baptizados bebés, frequentaram a catequese, receberam o “pai nosso”, fizeram a
primeira comunhão, a profissão de fé e o crisma, foram “sacristães”, ajudaram à
missa na igreja de S. Lourenço em Portalegre. O mais velho também já casado pela igreja católica, em Bruxelas.
Antes de acreditar em Deus, em Cristo e no Espírito Santos,
acreditei nos homens e nas mulheres.
Comecei por acreditar na minha mãe. Foi ela que me quis
baptizado. Foi ela que quis que frequentasse a igreja. Ah! Já me esquecia, e
porque estamos muito perto dos “santinhos”
lembrei de repente, que no dia um e dois de novembro, normalmente prolongava-se
por mais uns dias, de todos os anos e durante muitos anos, mesmo depois de ter
deixado de frequentar a catequese, percorria as ruas da cidade, dos bairros de
Santa Luzia, das Caixas, da Piedade e da Boa Fé, a pedir os “santinhos” que
naquele tempo não era pedir para “proveito” próprio.
Tinham-me ensinado que deveria bater às portas e, com uma
bolsa de pano aberta e de braços esticados dizer “uma esmola para as almas do outro mundo”, rara era a vez, que
nessa mesma bolsa, não caia uma moeda. Conseguia angariar uma boa “porção de dinheiro”. Pertencendo a uma
família humilde e pobre, esse dinheiro ou parte dele, podia vir “facilitar” as
dificuldades do dia-a-dia, durante alguns dias, mas nunca, nunca mesmo, foi
retirado um centavo que fosse. Todo ele, sempre, foi entregue a uma “tia”, tia
Rita, que o entregava ao padre numa paróquia na cidade. Este, certamente entregava-o
a Deus, já que as “almas do outro mundo” coabitavam com Ele.
Mas, ao que ia, antes deste descaminho, qual é o filho que
não acredita na mãe? Eu sempre acreditei na minha, mesmo quando às vezes lhe
dizia ou achava que não tinha razão. As mães têm sempre razão. Com essa certeza,
passei a acreditar também nas outras mulheres, catequistas, umas freiras e
outras laicas, porque elas também são mães, mesmo as freiras, porque sempre
diziam “meu filho” não digas isso… não faças assim… ou seja uma mãe que quer o
melhor para o seu “filho”.
Depois das mulheres, passei a creditar nos homens, nos
padres, no que diziam na missa e fora dela. Acreditava que ali não havia
desvios, não havia pecado, eram homens virtuosos e “santos” como Jesus Cristo. Embora
acreditasse? ou quisesse acreditar, muito novo, ainda na frequência da
catequese, apercebi-me que afinal, os padres não são assim tão virtuosos e tão “santos”
quanto isso, também tinham e cometiam os seus “pecados”. Estes comportamentos
de “pecado” não me fizeram desacreditar na fé de Deus, mas fizeram-me
desacreditar na “fé” do homem.
Como é possível que estes homens/padres, incutam no espírito
de um jovem que se tem de confessar a ele, para poder comungar, por ter pregado
uma mentirinha ao pai, à mãe ou a um amigo, quando ele, para além da mentira,
comete o crime de abuso sexual a uma criança.
Como é possível que um dignatário, bispo, da igreja católica,
oculte estas monstruosidades? E se ache no direito de não as denunciar.
Como é possível que o mais alto dignatário da nação,
presidente da república, considere que trezentos ou quatrocentos casos, não são
assim tantos quanto isso?
Como é possível que um primeiro ministro, venha publicamente
defender esta posição e querer fazer-nos pedir desculpa ao presidente da
república.
O comentador/presidente da república, depois de ter levado
tantos “puxões de orelhas” e não aguentando mais, vem dizer hoje, mas não
convencido, só o faz porque já não aguentava tantos “puxões” - peço desculpa…não
devia pedir desculpa, devia fechar a “matraca” e falar só quando os assuntos têm
a ver com os soberanos interesses do estado. Devia ter observado e aprendido
com o comportamento da rainha inglesa recentemente falecida, que apenas uma vez
deu uma entrevista e nunca comentava publicamente o quer que fosse, certamente
não era porque não tivesse opinião, mas sim, porque o sentido de estado assim
obrigava.
Por tudo isto, há muito tempo que desacredito, na fé em Deus
e na fé nos homens.
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