(continuação do "blog" anterior)
Sempre fui tímido e
introvertido, mas, ao mesmo tempo, com muita vontade de me desafiar e
experimentar o “desconhecido”.
Nunca me considerei um
aluno cábula, porque nunca o tinha sido até então, por medo, mas sentia uma
vontade “ENNOORMME” de experimentar.
Por esta altura, 1971,
havia um “expert” na matéria, ou pelo menos eu assim o considerava. Não havia
teste em que o meu amigo António Pinto não “cabulasse”, desculpa Pinto a
confissão, mas prometi contar. Normalmente o Pinto ficava na ala à minha
direita e mais ou menos ao meu lado, embora com distância. Assim que os
professores distribuíam os enunciados dos testes, era vê-lo a puxar da(s)
cábula(s) e pô-las em cima da mesa. Eu tremia cada vez que via aquilo. Ele
impávido e sereno. Copiava o que tinha a copiar, não era o único, mas é dele
que eu me lembro porque foi ele o “culpado” da minha primeira vez.
Quando terminavam os
teste e já fora da sala, perguntava-lhe como é que ele tinha coragem de puxar
pela cábulas e coloca-las em cima da mesa. Ele, como ainda hoje é, calmo, sereno
e bem disposto, dizia-me: - Isidro, ao contrário do que os professores dizem,
nós podemos copiar, eles é que não podem ver. Assim de simples.
Tantas vezes vi aquela
destreza que, um dia decidi experimentar também a “ minha primeira vez”.
Também eu fiz uma
cábula, não foi a primeira, mas foi a primeira que utilizei.
Uma pequena folha de
bloco do tamanho da palma da minha mão, escrita a lápis, com letra muito
pequenina, como deve ser uma boa cábula, para caber o máximo possível. Matéria:
lei de Ohm, Lavoisier e outras que na altura se estudavam. Sabíamos que estas
leis viriam no teste, propositadamente não as “encornei”, termo por nós
utilizado e penso que ainda em utilização pelos estudantes de hoje. Queria ter a coragem de me inaugurar na “minha primeira vez” e
sabia que esta seria a única maneira, tinha consciência que se não conseguisse
era “nega” no teste.
A sala do “teste” para
além da descrição feita anteriormente, tinha um enorme estrado junto do quadro
onde se situava a secretária do(a) professor(a). Dessa secretária era visível
toda a movimentação da sala por mais imperceptível que parecesse ser.
A professora Elvira
Barroso, como sempre, percorreu a sala distribuindo os enunciados do teste.
Logo que recebi o meu, estando ela de costa para mim, e na distribuição do
enunciado seguinte, enchi-me de coragem, meti a mão no bolso do casaco e tirei
a cábula. Ela continuou na distribuição dos restantes. Logo que terminou a
distribuição, como era seu hábito, sentou-se à sua secretária a corrigir os
testes da turma anterior. Normalmente os testes eram os mesmos, porque eram
feitos a seguir umas turmas às outras, sem qualquer hipótese de conversarmos
antes sobre o que vinha no teste.
À minha frente estava
um colega que vestia capote, braços abertos a escrever, o que significava,
encobrir-me de alguma forma, da visibilidade da professora.
Fiz o que sabia fazer,
os problemas especialmente, tendo deixado para o fim as definições, o mesmo é
dizer as “leis”.
Com a cabeça inclinada
sobre o teste, olhei de soslaio, para aferir a posição da professora.
Continuava sentada à secretária a corrigir testes.
A cábula que já estava
na mão desde o início, coloquei-a no tampo da mesa, junto ao teste e do lado
esquerdo. Copiei todas as definições. Estava tão “seguro de mim” que até me esqueci da professora, quando de repente,
me apercebi que ela estava a caminhar em direcção a mim.
O medo foi tanto que o
“climax” foi atingido. Não, não aconteceu o que estão a pensar, mas podia ter
acontecido…
Assim que me apercebi
que a professora estava a um passo de mim, coloquei a mão em cima do papel e
fechei-a. O papel cantou: - rahahrahh!
Pensei, já foste
apanhado, com o barulho que o papel fez. Atingi o “climax” as minhas pernas
tremiam, que nem varas verdes. Os pés estavam assentes nas travessas da mesa,
não chegavam ao chão, olhei para os meus joelhos e só os via subir e descer, a
minha mão direita tremia visivelmente. Concentrei-me, implorando calma a mim
mesmo. Deixei de escrever, fingindo que estava a ler o que acabara de escrever,
finquei o bico da caneta na folha do teste, com toda a minha força a fim de
parar de tremer, fiz mesmo um buraco na folha de teste. Finquei os pés na trave
da mesa quase pondo-me de pé para que os joelhos parassem de subir e descer. Não
conseguia parar de tremer. Como já tinha terminado o teste, decidi entregá-lo
de imediato e sair da sala. Felizmente não fui “apanhado”, a professora não
percebeu nada, não percebeu mesmo, porque se tivesse visto o mais leve indício
de copianço, imediatamente me tinha retirado o teste, anulando-o e mandando-me
sair da sala. Já tinha assistido a expulsões em outros testes.
Não se brincava com a
professora Elvira Barroso nem com qualquer dos outros.
E pronto esta foi a
“minha primeira vez”, estavam à espera que vos contasse o quê?Aguardo a vossa primeira vez