segunda-feira, 17 de abril de 2023

Memórias do Cota - Provas de Admissão

Em Junho de 1981, recebi uma notificação em casa, proveniente do Comando Geral da Guarda Nacional Republicana, onde me mandavam apresentar, no mês de Julho, não sei precisar em que dia, no antigo Regimento de Cavalaria, pegado com o antigo Batalhão 1 em Lisboa, para fazer as provas de selecção/admissão à Guarda Nacional Republicana. As provas consistiam numa prova cultural escrita de conhecimento geral, matemática/aritmética, essencialmente contas nas quatro operações, divisão, multiplicação, subtracção e adição   e respectivas provas reais e prova dos nove. Penso que também tinham um ou dois problemas. Português, texto com  interpretação, uma redacção e um ditado. Devido ao sotaque de cada um, do instrutor "ditador", por vezes, tornava-se difícil perceber determinadas palavras, ainda por cima, palavras, muitas delas que nunca tínhamos ouvido antes, por isso mesmo, os erros ortográficos eram mais que muitos. Acho que só podíamos dar no máximo três erros e cinco falhas de acentos, se ultrapassássemos esta "bitola" estávamos eliminados. De lembrar que a escolaridade obrigatória era a 4ª classe. Já não tenho a certeza se também houve uma prova de história de Portugal.

Estas provas eram as primeiras e eram eliminatórias, o resultado sabia-se no mesmo dia passada uma hora por aí, só quem passasse nelas passava à prova seguinte que era o exame médico, também ele eliminatório.

Cheguei a pensar que os médicos e os oficiais que faziam parte do júri, me iriam “chumbar” , porque os ouvi comentar que eu era “muito magro”, isto seria “bullying” nos dias de hoje. Eu estava nos antípodas do perfil físico do “guarda tipo”, que por estes tempos, um guarda, para ser “guarda republicano” tinha de ser barrigudo, atarracado, sem pescoço, a parecer-se mais com um barril, e tinha de ter um farto bigode, de preferência a fazer caracol enrolado para cima. Ora eu, era magro, muito magro na opinião de alguns, modéstia à parte, elegante, imberbe, sem corpo e sobretudo sem “cara para levar uma chapada”, como ia pôr ou impor ordem ou respeito na população?   

Não são só os gordos que são atacados de bullying, mas adiante, devem ter visto mais alguma coisa, para além da minha “magreza”, ah! devo fazer aqui uma ressalva, eu era de facto magro, ainda hoje de certa forma sou, mas não era nem sou cadavérico, ahahah embora tenha uma foto com dezasseis anos, em calções de banho, que só se veem ossos, costelas especialmente…ahahah, depois de alguma discussão lá resolveram passar-me à prova seguinte, que seria a prova física, que consistia numa corrida de no mínimo de dois mil e quatrocentos metros (2400 m) no tempo máximo de doze minutos. Cem metros em oito segundos, cinco elevações na barra, não sei quantos abdominais, umas flexões de pernas, salto em comprimento de dois metros a pés juntos, sem impulso e já não me lembro se também, o salto de uma vala e um muro. As provas físicas se a memória não me falha decorreram em Monsanto. Isto de estarmos a escrever passados tantos anos, tem disto…a memória, deixa de ser memória e passa um pouco a ficção…    

Como não me pesava a gordura, transportar os ossos e a pele foi fácil…

Cada uma das provas físicas eram também eliminatórias. Ou seja, à medida que íamos fazendo provas, sabíamos se estávamos eliminados ou não.

No final do bloco das três provas, cultural, médicas e físicas estávamos reduzidos a menos de metade.

Passada uma hora ou pouco mais e já tomado o respectivo banho, os que tínhamos chegado ao fim, fomos reunidos numa sala, onde foi anunciado se todos tínhamos passado ou não.

De imediato, fomos conduzidos para uma outra sala, para escolhermos as unidade/subunidades onde queríamos frequentar o alistamento.

O alistamento era o que é hoje o Curso de Formação de Praças, ministrado em cerca de cinco meses e decorria a na zona norte, Porto, zona centro, Coimbra, zona de Lisboa, Zona Sul, área do batalhão 3 – Évora. Nesta zona em concreto que era a que me interessava, decorria em Portalegre, em Reguengos de Monsaraz, em Beja e em Lagos.

Sendo eu natural de Elvas e residindo nesta bela cidade, naturalmente, escolhi a cidade de Portalegre para frequentar o alistamento, por ser a que ficava mais perto.

Escolhido o local de frequência do alistamento, logo me disseram que o mesmo teria início no dia três de agosto de mil novecentos e oitenta e um, data em que me deveria apresentar no Comando da Companhia Territorial de Portalegre.  

(esta história tem seguimento)

 

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