A formação da
especialidade de socorrista foi frequentada no Hospital Militar de Évora, no
final de mil novecentos e setenta e nove início de mil novecentos e oitenta, já
não sei precisar qual a sua duração. Os que foram militares do “meu tempo”
certamente se lembrarão melhor que eu.
O que vos quero contar
não tem propriamente a ver com a formação da especialidade, já que esta
decorreu normalmente e aprendi o que tinha de aprender.
Terminada a
especialidade, fui colocado da Casa de Reclusão de Elvas.
Para esta unidade
militar eram enviados os “criminosos militares” para cumprirem penas de prisão,
essencialmente composta por desertores do exército. Também havia um ou outro
militar da GNR e da ex. guarda fiscal a cumprirem penas de prisão por uma ou
outra condenação.
Tenho duas ou três
histórias que de alguma forma me “marcaram” e quando digo marcaram é
simplesmente porque me ficaram na memória por serem inusitadas e não por nenhum
outro motivo mais extraordinário.
Não sei se consigo
contá-las num único texto. Não quero que estes sejam demasiado extensos para
não vos saturar e ter quase a certeza que leem até ao fim.
Como já disse num texto
anterior, tive a sorte, continuo-o a se um “sortudo”, de ter feito a tropa na
minha cidade natal. Vantagem de Elvas ter sido uma cidade militar. Hoje é uma
sombra do seu passado histórico, mas não é por aí que quero ir, mas sim voltar
à minha história. Ah! Só mais um reparo, que isto de escrever ou falar é como
as cerejas vêm uma atrás das outras e não é por acaso, estamos mesmo na época
delas, mas a um preço astronómico, que só os pássaros as podem comer e de
borla…é a minha história e não “estória” que isto de estória faz-me lembrar
sempre o papel higiénico…mas adiante.
No primeiro mês de “pronto”
e já promovido a primeiro cabo, tinha direito a dormir, e comer no quartel,
embora quase sempre fosse dormir e comer a casa. O comer da mamã era outra
coisa.
Se a memória não me
falha muito, éramos pagos no período da recruta com trezentos escudos por mês (300$00).
Para os que eventualmente não sabem o que eram os escudos, era a moeda
portuguesas antes da adesão ao euro, o que hoje seriam um euro e meio (1,50 €),
tanto dinheiro...
Como primeiro cabo, mas
“arranchado”, este palavrão vem de
rancho e este significa comer/iguaria, logo com direito a comer e dormir, “ganhava” mil e quinhentos escudo por
mês (1500$00) ou um conto e quinhentos, hoje sete euros e meio (7,50 €).
Passados dois ou três
meses “desarranchei-me”, depois de
perceber que podia fazê-lo, obtendo com isso uma ligeira vantagem monetária e
passei a ganhar qualquer coisa como cinco mil e quinhentos escudos (5500$00), ou cinco contos e quinhentos, hoje vinte e
sete euros e meio (27,50 €), o que para a altura, um jovem sem compromisso e que
ainda-por-cima comia e dormia à conta dos papás era uma “pequena fortuna”.
Foi especialmente nesta
fase que comecei a juntar/guardar dinheiro. Sempre ouvi a minha mãe dizer que
grão a grão enche a galinha o papo. E de facto, a minha “galinha” “encheu o papo”, terminei o “tempo
obrigatório” com mais de cinquenta contos no papo.
Aos meus pais, o meu eterno
agradecimento por me terem permitido fazer este “pé de meia”.
As histórias deste
tempo virão no próximo “pedaços de mim”.
Assim espero!
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