Agora, no crepúsculo da comemoração do dia de Portugal, de
Camões e das Comunidades Portuguesas, não posso deixar de voltar à “vaca fria”
e, voltar a falar, no que constitui, a minha convicção, do uso indevido,
abandalhado e criminoso, da bandeira nacional.
Faço-o não para me justificar, mas, para fazer um apelo patriótico,
de compreensão e respeito, por aquilo que, nos representa enquanto nação.
Faço-o, em resposta aos comentários, totalmente
descontextualizados, aos que não têm noção do que estão a argumentar, aos que acham que é “giro”, que é “moda”, que fica bem, seguir o rebanho, e sem
fundamento nenhum, abandalham os princípios, os valores, a educação e os símbolos nacionais, achando-se que, com este
abandalhamento, estão a ser patriotas.
Faço-o porque, continuam a azucrinar-me, e, a
encher-me os ouvidos com razões que não são razão nenhuma.
Ainda não me convenceram que estou errado, mais do que me
convencerem, demonstre-me que estou errado, com argumentação válida, e terei a humildade suficiente, e necessária, para admitir esse mesmo erro.
Não vou repetir o que
antes já disse, (escrevi) vou antes, contar uma história (estória), que neste
caso, não é nem uma nem outra coisa, é apenas uma lenda, mas, como todos sabemos, as lendas têm sempre alguma história por trás.
Então reza assim a LENDA
Claro que estamos a falar de outros tempos, até porque
infelizmente, nos nossos tempos, já não existem lendas, que bom seria que,
continuassem a existir, sempre deixavam sonhar quem nos segue, vindouros claro.
Mas vamos à lenda
As armas da cidade raiana de Elvas, de onde sou natural, com
muito orgulho, representam um homem a cavalo, empunhando uma lança na mão
direita, de onde prende uma bandeira com as quinas de Portugal e, em roda do
escudo, a legenda em latim: “CUSTODI DOMINE, UT PUPILLAM OCULI” – mais ou menos
isto - GUARDAI-NOS SENHOR COMO A MENINA DOS OLHOS.
A tradição diz-nos que a origem daquelas armas terá sido o
feito heróico praticado pelo audaz cavaleiro Gil Fernandes d’Elvas, ou João Paes Gago, que houvera prometido ir ao
campo de Badajoz e de lá trazer o estandarte português roubado pelo inimigo e
que seria imprescindível recuperar.
Outra versão, reza que era dia santo, tanto no lado luso como
no castelhano e realizavam-se as habituais procissões.
Num grupo de portugueses, animados pelas festividades,
falava-se em guerra, e palavra puxa palavra, logo um deles, resolveu
ousadamente mostrar a sua bravura, invadindo território castelhano com intenção
de se apoderar do estandarte inimigo, SÍMBOLO MAIOR da Coroa que representava.
Tentaram dissuadi-lo, mas qual? Estava determinado !!!!!
E o dito cavaleiro, montou o seu corcel, e acompanhado pelos
seus escudeiros e homens de armas, lançou-se para Badajoz, quando se realizava
a procissão. Aí irrompeu por entre os crentes, arrebatou o pendão castelhano e
regressou rapidamente a Elvas, com o estandarte inimigo a reboque.
Como podemos verificar, ambas falam de um estandarte – Símbolo
Maior, se foi o estandarte português ou castelhano, pouco importa, o que
importa é o Símbolo.
Continuando na lenda
Ao chegar ao castelo, deparou-se com as portas das muralhas
cerradas. Uma, duas, três vezes o circundou, sem encontrar uma entrada. É que,
os de dentro, viam ao longe os castelhanos furiosos e tinham mandado cerrar os
acessos…
Desesperado, o cavaleiro ergueu-se sobre a sua montada e
lançou o estandarte português? castelhano? Para dentro das muralhas, caindo,
depois de grande perseguição, nas mãos dos de Badajoz.
Morreu honrosamente em combate e, as suas últimas palavra
foram:
- Morra o homem e deixe
fama.
Também, aquele que celebramos neste dia, Camões, nos Lusíadas,
referiria, mais tarde com o mesmo sentido “aqueles
que por obras valerosas / se vão da lei da Morte libertando”.
Seria este cavaleiro Gil Fernandes d’Elvas, o Bom, que foi
Alcaide-Mor do Castelo e cujos feitos heróicos, nesta e noutras batalhas, não
se esquecem? Chamaram-lhe “homem fronteira” os historiadores castelhanos e o próprio
Poeta, contador dos feitos Lusitanos, o nomeia como um bravo na sua obra maior,
os Lusíadas, no Canto XVIII, estrofe 34.
“Olha este desleal e
como paga
O perjúrio que fez e
vil engano;
Gil Fernandes é de
Elvas quem o estraga
E faz vir a passar o último
dano:
De Xerez rouba o campo
e quási alaga
Co sangue de seus donos
Castelhanos (…).
Seja como for a lenda, ou a história, o que sabemos é que o estandarte
ou bandeira foi e é um SÍMBOLO MAIOR, pelo qual muitos deram e continuam a dar
a vida. E na minha modesta opinião, não é nas janelas nem nas "clubites"que se
respeita e se dá a vida pelo símbolo nacional.
Nesta Comemoração saiu um novo “herói” João Miguel Tavares,
neste caso, não um Elvenses, mas um Portalegrense, já não era sem tempo…
quantos heróis tem Portalegre? Bom, prossigo, que atirou com a “Bandeira das
palavras”, não para dentro do castelo, mas do castelo para fora. E foi tão
grande o seu acto heróico, que, a todos surpreendeu, ou talvez não, no dizer de
alguns…
A mim não me surpreendeu, pela simples razão que não sabia quem
era, e continuo a não saber, apenas sei, agora, que é jornalista, comentador, é
casado, tem quatro filhos, filho de funcionários públicos, e, que chegou “aqui”,
nas suas palavras, por mérito próprio… e faz parte de um “governo sombra”.
Sim, gostei do discurso, sem esperar nada, disse aquilo que
muitos de nós dizemos, e queríamos ouvir, duma forma simples, terra à terra, de
maneira que todos percebêssemos, e daí a força, e o heroísmo de nos ter
atingido, pela surpresa, com a sua bandeira de palavras.
E agora que hasteou esta “bandeira” que vai fazer com ela? Esta
é a questão?
Vai guardá-la como se nada tivesse dito, ou vai aproveitar a
cavalgada, e fazer algo de diferente, ou seja do que defendeu, ou tornar-se um
dos que criticou?
E os outros, os que fomos atingidos com a “bandeira” que
vamos fazer? Esquecer?
Onde está o nosso patriotismo? Nos Campo de futebol com a
bandeira nacional na mão ou atrás da vidraça da janela à espera de novos
heróis?
Ou lutar e defender com a própria vida aquilo em que
acreditamos, ouvimos e aceitamos como legitimo defender?
O que nos distingue não é o sermos de direita, de esquerda ou do centro:
O que nos distingue não são as bandeiras que seguramos.
O que nos distingue é sermos nós.
O que nos distingue é a verticalidade e firmeza com que seguramos as nossas bandeiras.